"Sr. Presidente,
Em 1972, Bobby Fischer foi para os Estados Unidos da América, como um herói nacional.
Ele me venceu no match de Reykjavik.
A hegemonia soviética do xadrez foi derrubada.
Um homem ganhou contra um exército inteiro.
E esse mesmo Fischer parou então de jogar.
Repetiu a historia triste de Paul Morphy.
Com a idade de 21 anos, Morphy havía batido todos os jogadores europeus que encontrou pela frente.
Também, parou de jogar e, acabou sua trágica vida, com a idade de 47 anos, em New Orleans, 1884.
Em 1992, vinte anos depois de Reykjavik, aconteceu um milagre.
Fischer ressuscitou e jogamos um match na Jugoslávia.
Mas, naquela época havia sanções contra a Jugoslávia que proibiam a cidadãos americanos qualquer actividade neste território.
E Fischer violou as instruções do Departamento de Estado.
Ele foi enquadrado numa autorização para a detenção publicada em 15 de dezembro de 1992 pela Corte de Distrito nos E.U.A.
E quanto a mim, como cidadão francês desde 1978, não recebi nenhuma sanção por parte do Governo Francês.
Está claro que a lei é a lei.
Mas, o caso de Fischer é especial.
Sou um velho amigo de Bobby desde 1960, quando jogamos em Mar-del-Plata e compartílhei o 1º-2º lugares com ele.
Fischer tem uma personalidade trágica.
Constatei isso naquela época.
Mas, é um homem honesto e de boa natureza.
Absolutamente não social.
Ele não é adaptável ao quotidiano da vida.
Mas, tem um sentido muito alto de justiça e é pouco disposto a se comprometer, assim como, com sua própria consciência ou com as
pessoas.
É notável que faça muitas coisas que chegam a prejudicar a si mesmo.
Não quero defender ou justificar Bobby Fischer.
Ele é como é.
Estou pedindo somente uma coisa.
Apelando para a misericórdia e a caridade.
Se, por qualquer razão, isto for impossível, quero pedir o seguinte:
Corrija por favor o erro do meu presidente François Mitterand (França) em 1992.
Eu e Bobby cometemos o mesmo crime.
Sancione a mim também.
Prenda-me.
E me ponha na mesma cela que ele.
E nos dê um tabuleiro e peças de xadrez."