25/07/09

XADREZ, CULTURA E SOCIEDADE - POR SÉRGIO ROCHA

Decidi aceitar o convite do autor deste blogue, para publicar algo sobre xadrez, por considerar que o mesmo trata o nobre jogo, que nos entusiasma, com dignidade.
Assim a maior dificuldade foi escolher um assunto que pudesse interessar aos leitores que convido desde já a dizerem de sua justiça.
Quando há algum tempo li o artigo do Rui Marques intitulado Piço Nº 1 fiz uma retrospectiva acerca dos locais onde já tive o prazer de jogar xadrez e onde tinha sido tratado como se fosse um dos príncipes da modalidade, mas estando naturalmente enquadrado na patente de “Piço”. Essa retrospectiva fez-me recordar Batumi, na Geórgia, em 1999 onde integrado na Selecção Nacional joguei o Campeonato da Europa. Muito embora essa viagem não tenha sido das melhores programadas pela FPX, dado que ao chegarmos a Batumi descobrimos que apenas duas equipas tinham voado para Tbilissi, sendo uma delas obviamente a portuguesa e que por conseguinte fomos obrigados a fazer uma viagem de 13 horas de autocarro, pelo meio das mais incríveis estradas que possam imaginar no continente europeu. A FPX ou os agentes de viagem não sabiam que havia um aeroporto em Batumi, foi a justificação dada na altura.
Após esta aventura, que tivemos de repetir no regresso, começaram a chegar as boas surpresas. A primeira foi a habitação que nos estava reservada, um chalé de três andares à beira da praia (pena não ser Verão) totalmente reservada para a comitiva portuguesa, mas o melhor ainda estava para vir…
Apesar de já ter jogado em várias cidades ou países esta foi a primeira vez que “o Xadrez” era o acontecimento mais importante da cidade e do país, as transmissões televisivas dedicavam-lhe no mínimo três horas diárias, os chefes políticos, primeiro-ministro incluído, marcaram presença no evento, respirava-se xadrez na cidade, a modalidade estava incluída nos valores e tradições culturais da sociedade.
Não será por isso de estranhar as restantes surpresas que nos destinavam, sendo a que mais recordo, a de ter dois carros da polícia a servir de escolta ao nosso (comitiva Portuguesa) autocarro de forma a parar e desviar o trânsito à nossa passagem. “Abram alas para os piços”…
Naturalmente que, para nossa tristeza, Portugal está bem longe destes valores culturais e sociais, mas também porque a comunidade xadrezistica nem sempre valoriza os efeitos ou virtudes do seu jogo de eleição, dando por vezes relevância a “pistoleiros de sofá” que nunca se dignaram sequer a ensinar qualquer criança a jogar ou a promover qualquer actividade dentro da nossa modalidade, mas que teimam em infestar o desenvolvimento da modalidade como moscas em redor duma sardinhada.
É muito importante que os diversos agentes da modalidade convirjam rapidamente para um objectivo comum, a promoção do xadrez português, deixando de vez as guerras feudais que se desenrolam à volta dos seus quintais e cujo futuro, que podemos antever como consequência, será a definitiva capitulação do xadrez.

Como não quero entediar os leitores apresento uma das posições que mais me impressionaram no xadrez e deixo um pequeno desafio que deverá ser resolvido sem a ajuda dos “monstros de silicone”.
Jogam as brancas, onde acham que o rei preto vai ser executado e quem se move para efectuar Xeque fatal?












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