22/01/09

My Best Games with Black - Crítica ao DVD





Nos últimos tempos têm proliferado os DVDs sobre Xadrez.
Se bem que a aproximação passiva de assistir a explicações não seja definitivamente a melhor para evoluir no jogo, certamente que ouvir o que os mestres têm a dizer sobre o jogo não pode fazer mal a ninguém.
E é bastante fácil, é só ligar o computador e ficar a ver...
Desde que também se façam outras actividades e a pessoa não se transforme num vegetal...

A Chessbase tem lançado vários produtos destes, entre os quais várias apresentações de Alexei Shirov, que, ao que parece, têm tido um enorme sucesso.
Shirov é um jogador de topo, uma autoridade, e explica muito bem o que acha de vários aspectos do Xadrez, sendo bastante claro e acessível, para vários níveis de jogadores. Além disso o espectador tem um relato na primeira pessoa do que realmente se passa no topo do Xadrez, o que é sempre muito interessante.

Estes DVDs têm também um forte valor recreacional, de puro gozo.
E neste aspecto o Shirov é muito bom.
Não só o seu estilo de jogo é fascinante, como o seu estilo pessoal é altamente cativante – humilde, com grande sentido de humor e um inglês francamente bom, em que o sotaque russo só lhe fica bem.

No entanto, na ansia de explorar este filão, acho que o team Chessbase-Shirov se excedeu num dos últimos DVDs – My Best Games with Black.

A ideia do DVD parece ser explicar como se deve jogar de pretas.
Neste âmbito o Shirov tenta dar vários conselhos e formular várias regras. No entanto, não me parece que o tipo de conselhos que ele formula (visando especialmente preparação de aberturas e estudo de repertório dos adversários) se aplique à maioria dos comuns mortais, ou até que muitos percebam do que ele está a falar...
Além disso o espectador fica na dúvida porque é que aqueles conselhos servem para ganhar de pretas e não de brancas...

Estas regras e conselhos soam bastante mal, e tirando a partida da introdução, contra Ivan Sokolov - um caso clássico em que era preciso ganhar de pretas - acabam mesmo, a meu ver, por cair no ridículo.
Claro que ao mais alto nível ganhar de pretas é um problema, mas Shirov às tantas até admite que - se as brancas quiserem mesmo empatar, é melhor escolher outro dia para ganhar de pretas!

Ainda por cima ele atrapalha-se constantemente quando começa a expor os seus pontos de vista sobre as aberturas das partidas – acabado por confessar que não se trata de um DVD sobre aberturas, ficando tanto o espectador como o próprio Shirov por ficar sem perceber muito bem o que pensar das linhas jogadas...

Quanto à selecção das partidas, até aí ele consegue meter água.
Apresenta um empate de salão com o Ivanchuk - que admite não ter nada a ver com as suas melhores partidas – o facto é que temos 10 minutos sobre uma não partida.
E uma partida com o David Navara que este perdeu por dar o peão e4 - com um erro tão mau que até eu ficaria com as orelhas encarnadas – dificilmente uma “melhor partida”...

Claro que há muitas partidas boas e até importantes, e ficamos a saber das atribulações da vida do Shirov, como quando ele deixou de ser convidado para os torneios de topo e teve que passar a jogar opens (como convidado), ou de como ele se embrenhou numa floresta da Sibéria, armado com os sticks do ski para enfrentar um eventual urso!

Ou seja, os DVDs Chesbase do Shirov são em geral muito bons, mas não comecem por este - porque podem ficar com uma ideia errada sobre o significado de uma expressão muito utilizada por ele:

“Totally ridiculous!”