Fischer, retirou a Spassky, um titulo que desde 1948, pertencia aos soviéticos.
A Federação da URSS decide como prioridade máxima recuperar algo que lhes pertencia à quase 30 anos.
Anatoly Karpov, é a figura mais prometedora para o fazer, tendo por isso, todo o "apoio institucional" para cumprir a missão.
Uma vez consagrado Campeão do Mundo, "Bobby" Fischer, não voltou a participar em qualquer torneio.
A decisão é estranha para alguém que prometia antes do confronto com Spassky, jogar todos os torneios que pudesse de forma a ganhar o máximo de dinheiro possivel.
A primeira consequência surge em 1973, onde o Óscar de Xadrez é entregue a Anatoly Karpov, cidadão modelo e esperança do xadrez soviético.
A grande surpresa !
Congresso da FIDE, em Nice, ano de 1974.
Um telegrama de Fischer com mais de 800 palavras !
Parágrafo por parágrafo, Fischer apresentava as suas condições para disputar o match de 1975.
A condição principal, era que se jogasse a 10 victórias, sem serem contabilizados os empates.
Se, a pontuação chegasse a ser de 9 a 9, Fischer manteria o titulo.
O carisma de Fischer era tão grande, que as suas condições foram debatidas e finalmente submetidas a votação.
A maioria dos Delegados aceitou todas as exigências do Campeão do Mundo, excepto uma;
Jogar um match sem limite pré-fixado de partidas.
Ficou decidido que não deveria haver mais de 36 partidas, no fim das quais, ganharia o xadrezista que tivesse obtido maior numero de victórias.
Em resposta a esta decisão, o Congresso recebeu outra missiva de Fischer;
"No meu telegrama anterior, já explicava que as minhas condições não eram negociáveis...
Entendo que tenham sido recusadas por maioria de votos, mas ao fazê-lo, a FIDE opoêm-se à minha participação no Campeonato do Mundo de 1975.
Por consequência, renuncio ao meu titulo de Campeão do Mundo FIDE."
O Congresso aceitou a abdicação do "Rei", no entanto, enviou um telegrama propondo uma reconciliação.
Não houve resposta de Fischer...
O que estava aqui em causa ?
Dois blocos da politica mundial que dividiam o Congresso.
Alguns burocratas, daqueles que entram no xadrez para o destruir ou forrarem-se no jogo de interesses.
E muitos admiradores das proezas xadrezisticas de Fischer, mas alguns já cansados das suas "excentricidades".
No entanto, faço recordar aos leitores deste blogue, o match anulado, que decorreu entre 10 de Setembro de 1984 e 15 de Fevereiro de 1985. O primeiro entre Anatoly Karpov e Gary Kasparov.
Só à 32º partida, Kasparov "aprendeu" a ganhar a Karpov !
À 36º partida, o resultado era de 5 a 1, favorável ao detentor do titulo.
Ou seja, o match que decorreu de 3 de setembro a 9 de Outubro de 1985 e no qual Kasparov derrotou Karpov por 13 a 11, nunca teria acontecido !
Karpov, teria revalidado no primeiro duelo entre os dois.
Só em 1988, Kasparov poderia voltar a disputar o ceptro de Campeão do Mundo.
Históricamente, até esse mesmo ano, Gary Kasparov, foi por 3 vezes Campeão Mundial !
Quase ninguém acreditava que o match não se iria realizar.
Uma incrivel oferta chega das Filipinas.
Eram oferecidos 5 milhões de doláres da época para Fischer e Karpov jogarem em Manila !
Contudo. Fischer nunca mais pronunciou uma só palavra que fosse.
A pedido de váriadissimos Países, foi convocado um Congresso extraordinário da FIDE, para debater e se necessário, rever as condições para a final do Campeonato do Mundo aprovadas em Nice.
O objectivo destas acções era satisfazer todas as exigências de Fischer e deste modo persuadi-lo a jogar.
O Congresso extraordinário da FIDE, decorreu no dia 17 de Março de 1975, na cidade Holandesa de Bergen aan Zee.
Por pequena maioria de votos, foi aceite um match ilimitado.
A Federação da URSS, opôs-se.
O Congresso também confirmou a decisão anterior de jogar a 10 partidas ganhas.
No entanto, a maioria dos Delegados recuaram num ponto;
Ficou decidido que o empate a 9-9 não seria executivo e o match prosseguiria até à décima victória de um dos jogadores.
Outra recordação:
- O match decorrido em Sevilha, entre 12 de Outubro e 19 de Dezembro de 1982, entre Gary Kasparov e Anatoly Karpov.
Nunca karpov esteve tão perto de oficialmente derrotar Kasparov !
O resultado final de 12 a 12 diz tudo.
Kasparov, retém o titulo, estando em igualdade pontual, por as regras nessa altura o permitirem.
Estaria Fischer, realmente a pedir assim tanto ?
E os matches de antecessores como Lasker, Capablanca e Alekhine ?
As regras estipuladas eram muito mais gravosas para o candidato ao titulo do que estas, exigidas por Fischer para jogar, seriam para Karpov.
"Parece-me agora" - Escreveu Anatoly Karpov no livro "Amanhã será uma nova batalha", publicado em Moscovo no ano de 1982 - " Que se tivessemos reunido pessoalmente, teriamos encontrado um ponto de coicidência. Mas, as negociações foram conduzidas através de representantes e chegavam ao dominio público, de forma que os meios de comunicação construiram montanhas de um granito de areia, o que só serviu para agravar a situação."
Nota: Isto não se passou exactamente assim.
Em Espanha muito boa gente sabe que Fischer e Karpov dialogaram directamente em Cordoba.
Fischer tentava fazer valer as propostas que apresentou em Nice e Karpov não queria prolongar o match acima da sexta vitória de um deles.
A União Soviética queria recuperar o titulo mundial e entrar num match demasiado prolongado, colocava em causa essa recuperação do ceptro mundial.
O ponto mais fraco de Karpov, sempre foi a sua resistência fisica.
O silêncio de Fischer manteve-se, confirmando que era o primeiro Campeão Mundial a abdicar do seu titulo.
Em 5 de abril de 1975, em Moscovo, o presidente da FIDE Max Euwe, proclama solenemnete Anatoly Karpov como o 12º Campeão Mundial.
Finalizo este artigo, com uma declaração recente de Karpov;
"Sinceramente, acredito que em 1975 as probabilidades de Fischer ganhar o duelo eram maiores que as minhas, mas, se falarmos de 1976, já não estou tão seguro porque evoluí muito num só ano."
"Bobby" Fischer não queria apenas ganhar a Karpov.
Fischer queria ganhar deixando Karpov a zero !
E não obteve as condições que procurava;
Um match longo, onde o fim não estivesse à vista.
Até ao 6 a zero, já sabemos como funciona;
Basta relembrar Taimanov e Bent Larsen.
Só que aqui havia um problema;
Karpov, era de uma nova geração.
Um jogador prático, psicológicamente bem estruturado e que não era autónomo nas suas acções.
As decisões tomadas por ele, já antes tinham sido "aconselhadas" pela poderosa Federação Soviética de Xadrez.
Conclusão:
Para Karpov ter a certeza da victória em 1975 ?
Só mesmo não tendo de defrontar Fischer...