24/02/09

EXCESSO DE CONFIANÇA

Perdi porque o meu adversário jogou mal!
Esta frase parece um contra-senso, mas às vezes é a pura reflexão da verdade.
O facto é que entre jogar mal no sentido de não fazer os melhores lançes e jogar mal no sentido de cometer erros que levam à perda da partida vai uma grande distância.
E ás vezes o adversário pensa que, lá por não fazermos o melhor lance
(ou o que ele pensa que é o melhor)
já temos direito a ser castigados com um ataque decisivo – e quando tentam executar o tal ataque decisivo este revela-se rapidamente um ataque suicida...

A próxima partida ilustra claramente este tema – o jogador das pretas é um jovem talentoso, mas revela demasiada impaciência...

Castro,Rui Pedro - Pires,Emanuel [C01]
Taça de Lisboa, 01.02.2009

1.e4 e6
2.d4 d5
3.exd5 exd5
4.c3 Bf5
5.Cf3 Bd6
6.c4?!



As brancas não tentaram propriamente tirar vantagem da abertura. Jogaram a variante das trocas, conhecida por não dar chances de vantagem e agora perdem um tempo. No entanto ainda não cometeram nenhum erro grave - a perda de tempo quando muito pô-las-ia a fazer o papel das pretas - e a variante das trocas garante sempre uma posição equilibrada... A posição será de ligeira vantagem das pretas. Mas as pretas interpretaram mal a situação e acharam que era altura de punir o adversário pelo seu jogo titubeante...

6...Bxb1?
7.Txb1 De7+
8.Be3 Bb4+
9.Cd2 De4?
10.Tc1!
(a ameaça era Bxd2+)



Depois de desta sequência forçada as pretas apenas conseguiram expor a Dama e atrasar o desenvolvimento. Começar um ataque ao sexto lance com a Dama e o Bispo e deixar os cavalos na casa inicial é no mínimo muito impulsivo. De reparar que as brancas aproveitaram para desenvolver as peças - o Bispo e o Cavalo estão pregados, mas estão cá fora, e a torre já está numa excelente posição. Compare-se com o diagrama anterior...

10...c5?
Cruzando a linha - agora a incursão impulsiva torna-se num ataque suicida. Era absolutamente essencial começar a desenvolver as peças. Um peão não chega para derrotar as Brancas...
11.cxd5! cxd4?!
[Era preciso reconhecer os erros e defender uma posição inferior. 11...Dxd5 12.dxc5 com clara vantagem das Brancas]
12.Da4+ Cc6
Não há alternativa – senão o Bispo cai
13.dxc6





13...dxe3?
Pelo menos as pretas ainda podiam obrigar as Brancas a jogar uns lances dificeis:
13...Bxd2+! 14.Rd1! b5! 15.Bxb5! Bxc1 16.Bxc1


e apesar de a vantagem Branca ser muito grande (rei e dama pretos expostos, Torre h8 sem jogar), pelo menos a posição ainda é complicada - em termos materiais as pretas até estão melhor...

14.cxb7+ Re7
15.Tc7+ 1-0







>>

16/02/09

CHESS FOR SCOUNDRELS - CRITICA AO DVD





Os DVDs sobre todos os temas de Xadrez proliferam, nomeadamente os da Chessbase.
No entanto, mais que aprender umas coisas, talvez o maior valor destes DVDs esteja no aspecto lúdico.
Nesta prespectiva, este é claramente um dos melhores!

Nigel Davies, com o seu ar bonacheirão e muito educado, um verdadeiro gentleman inglês, informa-nos sobre os métodos psicológicos mais violentos que um xadrezista pode usar para desestablilizar o adversário.
"O xadrez é como a guerra", diz ele na introdução, "não é como no dia a dia, em que devemos ser simpáticos uns com os outros", e dá os mais variados exemplos, desde uma oferta de um chá ao adversário com segundas intenções, até ao facto de não se poder apertar o pescoço do adversário para o obrigar a abandonar, porque isso iria contra as regras da FIDE...

O nome dos capítulos é revelador - tortura, intimidação, insultos, dissimulação, e por aí a diante... tudo ilustrado com partidas entre GMs, algumas muito famosas, como Karpov-Miles (Skara, 1980) em que o campeão do mundo, após perder a partida, declarou que se tinha sentido insultado pela escolha da abertura do adversário (1. e4 a6?!) e a famosa gargalhada de Fischer em resposta à proposta de empate de Geller, no Interzonal de Pama de Maiorca de 1970, acabando por o obrigar a jogar um final empatado horas a fio, e conseguindo vencer no fim.

Resumindo - hilariante!

Mas fica um aviso para quem tentar aplicar estas técnicas na prática:
Há uns adversários que podem ficar chateados - e depois de uma derrota e uma vez destabilizados psicologicamente - até se podem tornar perigosos!

03/02/09

ANATOLY KARPOV PERDE MATCH COM UM XADREZISTA IRANIANO - MATE OF THE KING 2009


KARPOV VS GHAEM MAGHAMI - MATE OF THE KING 2009

Em comemoração do 30º aniversário da Revolução do Irão, também conhecida como a Revolução Islamica, teve lugar em Teerão um duelo entre o melhor xadrezista iraniano e o ex-Campeão do Mundo Anatoly Karpov.
De 27 de Janeiro a 3 de Fevereiro, Karpov mostrou mais uma vez que a sua actual força de jogo nada tem a haver com a que tinha no milénio passado.
Foram jogadas 20 partidas com controles de tempo variados;
4 partidas clássicas, 4 partidas de rápidas e 12 partidas de xadrez relampago.
O jogador iraniano Ghaem Maghani decidiu o match a seu favor precisamente nas partidas de xadrez relampago.
Algumas curiosidades deste confronto;
em 20 partidas, as negras venceram 10 !
Nas restantes ocorreram 5 vitórias para as brancas e 5 empates.
Ainda, a assinalar a baixa qualidade das partidas jogadas pelos dois intervenientes;
ambos com mais de 2600 de elo, mas olhando para os jogos ninguem diria.
Para que me compreendam, Karpov deve ter cometido quase tantos erros neste match como numa década nos anos em que Karpov era KARPOV.


>>

02/02/09

A PARTIDA DO TUDO OU NADA - LENIER DOMINGUEZ VS SERGEY KARJAKIN - CORUS 2009 GRUPO A


LENIER DOMINGUEZ VS SERGEY KARJAKIN - CORUS A 2009

O jovem ucraniano Sergey Karjakin foi o vencedor do Corus 2009.

Nunca visto !
À entrada da 13ª e última ronda, seis GM`s estavam em condições de chegar ao 1º lugar da classificação final !


FINAL STANDINGS GROUP A - CORUS 2009

Dizem que não há sorte no xadrez; sim que a há !
O GM cubano deixa escapar a vitória na partida e no torneio por uma unha negra.
Assim, passou de vencedor isolado no torneio para um 6º lugar final.
Vamos à politica no xadrez que interessa aos seus praticantes;
as jogadas no tabuleiro.

Lenier Dominguez Perez (2717) - Sergey Karjakin (2706)
Corus A, Wijk aan Zee NED (13), 01.02.2009
ECO: B90

1.e4 c5 2.Nf3 d6 3.d4 cxd4 4.Nxd4 Nf6 5.Nc3 a6 6.Be3 Ng4 7.Bc1 Nf6

8.Be3 Ng4 9.Bg5;

[ 9.Bc1 Nc6
( 9...Nh6 ?!; 9...Nf6 1/2:1/2) ]

9...h6 10.Bh4 g5 11.Bg3 Bg7 12.h3 Nf6 13.Qe2 Nc6 14.Nxc6 bxc6 15.e5 dxe5

16.Bxe5 0-0 17.g4 !? Novidade absoluta ?

[ 17.g3 ]

17...a5;


18.h4 !? Lenier Dominguez;

[ 18.Bg2 ]

18...Bxg4 19.f3 Bf5 20.hxg5 hxg5 21.Qe3;

[ 21.Qh2 ? 21...Qb6 =/+]

21...a4 22.Qxg5 Bg6;

[ 22...Bxc2 ?!; O sentido de perigo evitou que o jovem ucraniano fosse por caminhos dificilmente calculáveis. ]

23.Bd3 !;

[ 23.Bc4 e6 ! 24.Bxe6 Re8 25.Qxg6 Rxe6 26.Qf5 a3 oo
( 26...Qd4 27.f4 oo ) ]

23...a3;


24.b4 ?! Leinier Dominguez; 24.0-0-0 ! Viriatovitch;

24.b4 ?!; Seguindo a partida online, instintivamente senti que o melhor para as brancas seria rocarem largo.

[ 24.0-0-0 ! Viriatovitch;
Análises: 24...axb2+ 25.Kb1 Qa5 26.Bxg6 fxg6 27.Rdg1 Rf7 28.Rh4 Nd5 29.Na4 Nf4 30.Rxf4 Rxf4 31.Qxf4 Qxe5 32.Qxe5 Bxe5 33.Rxg6+ Kf7 34.Rg4 Rd8 35.c3 Rd3 36.Rc4 Rxf3 37.Rxc6 Rf2 38.Nxb2 +/- E as brancas devem ganhar;
Dentro da linha jogada pelo fabuloso xadrezista cubano, parece-me que a ordem correcta seria, 24.Bxg6 fxg6 e agora sim, 25.b4.
Mais análises: 25...,Qb6 26.Rh4 Rad8 27.Rb1 Ne8 28.Bxg7 Nxg7 29.Ke2 Rd6
30.Ne4 Re6 31.Rbh1 Qxb4 32.Qe3 Qc4+ 33.Kd1 Qd5+ 34.Kc1 Nh5 = ]

24...Qb6 25.Rh4 Nh7 26.Rxh7 ?; Em apuros de tempo, Dominguez fez a opção que a adrenalina mandou.

[ 26.Qf4 Bxe5 27.Qxe5 Qg1+ 28.Bf1 Qg5 29.Qxg5 Nxg5 30.Bg2 Ne6 31.Rd1 Rfd8 32.Rxd8+ Rxd8 33.Nb1 +/= ]

26...Kxh7 27.0-0-0 Qxb4 28.Rh1+ Kg8 29.Bxg7 Kxg7 30.Qh6+ Kf6 31.Ne4+ Ke6

32.Rd1 Qb2+ 33.Kd2 Kd7 34.Qf4 Rfd8 35.Ke2 Ke8 36.Rh1 Ra5 37.Qc7 Rad5 38.Ke3 Kf8

39.c3 Rxd3+ 40.Kf4 f6 41.Rh8+ Kf7;
0-1




>>