Outro livro recente é 100 Engames You Must Know, a tradução inglesa do livro espanhol 100 Finales Que Hay Que Saber, do GM espanhol Jesús de la Villa.
Trata-se de um livro sobre finais teóricos, daqueles que já estão analisados pelo computador até ao fim, e que, reza a tradição, é necessário ter na ponta dos dedos para jogar bem.
Trata-se de um livro sobre finais teóricos, daqueles que já estão analisados pelo computador até ao fim, e que, reza a tradição, é necessário ter na ponta dos dedos para jogar bem.
A primeira coisa que eu gostei do livro, foi da introdução, em que o autor começa por pôr em perspectiva a importância do estudo dos finais, chamando à atenção que as partidas entre jogadores menos experimentados chegam normalmente ao final com uma vantagem demasiado grande para um dos lados, bastando algum bom senso e um conhecimento dos mates básicos para o jogador em vantagem consiga ganhar o jogo.
Mas o facto, é que à medida que a força de jogo vai aumentando, o jogador em desvantagem vai dando mais luta, e a partir de um certo nível, consegue frequentemente levar a partida para um final, que apesar de desvantajoso, exige técnica para ser ganho.
E uma das componentes desta técnica é conhecer os finais mais simples
(com menos peças),
de modo a poder conduzir o jogo com confiança para um deles e conseguir transformá-lo numa vitória
(ou num empate, no caso de se estar em desvantagem).
Existem vários livros sobre estes finais.
O problema é que, na maioria, ou são livros que só abordam os finais mais básicos, ou são autênticos “tomos enciclopédicos” que no mínimo assustam qualquer jogador médio.
Ora vejamos as características “normais” destes tomos:
- Volumosos – cerca de 400 páginas – quem é que tem tempo/paciência para ler/pesquisar, se não for um jogador de carreira?
- Ciêntificos – Normalmente os autores preocupam-se muito em fornecer a verdade exacta das posições de forma concisa sem atender a que o jogador prático vai precisar de se lembrar da informação durante a partida, e precisa de a memorizar.
Ou seja, abordam o tema na forma das demonstrações matemáticas.
- Densos e impenetráveis – normalmente é preciso para um bom jogador uma boa dose de trabalho e alguma capacidade, só para compreender as análises publicadas.
Como o leitor já deve ter adivinhado, este livro é bem o contrário.
Selecciona um número relativamante pequeno (100) de finais a estudar.
Tem 250 páginas, mas tal deve-se mais ao estilo leve da edição e das análises que recorrem a numerosas explicações verbais.
O autor trata o jogo como um desporto e preocupa-se em dar regras fáceis de memorizar, de forma a poderem ser utéis durante uma partida.
O livro começa com uma introdução, sobre a atitude para estudar os finais e algumas análises estatisticas da frequência da ocorrência de alguns finais.
Seguem-se 9 finais básicos – rei e peão contra rei, torre contra bispo, etc.
Segue-se o teste básico.
Este teste é muito interessante, porque é relativamente dificil para quem não saiba o que é ensinado na parte seguinte do livro, mas é bastante fácil para quem o saiba. Pelo que serve para saber se o leitor tem alguma coisa a aprender com o livro, e em que capítulos se deve concentrar.
Depois de ler o livro, pode fazer o teste outra vez e ver os resultados...
Depois vem a parte principal do livro, com um capítulo para cada relação de material.
Eu achei os capítulos de Dama contra peão, Torre contra peão, Cavalo contra peão, Torre e peão contra Torre, Bispo e peão contra Bispo e finais de peões bastante acessíveis, para qualquer nível de jogador, com excelentes explicações verbais e boas regras para memorizar as coisas mais importantes.
E aprendi umas coisas...
Este teste é muito interessante, porque é relativamente dificil para quem não saiba o que é ensinado na parte seguinte do livro, mas é bastante fácil para quem o saiba. Pelo que serve para saber se o leitor tem alguma coisa a aprender com o livro, e em que capítulos se deve concentrar.
Depois de ler o livro, pode fazer o teste outra vez e ver os resultados...
Depois vem a parte principal do livro, com um capítulo para cada relação de material.
Eu achei os capítulos de Dama contra peão, Torre contra peão, Cavalo contra peão, Torre e peão contra Torre, Bispo e peão contra Bispo e finais de peões bastante acessíveis, para qualquer nível de jogador, com excelentes explicações verbais e boas regras para memorizar as coisas mais importantes.
E aprendi umas coisas...
Os outros capítulos, por exemplo, Torre e dois peões contra Torre – são de dificuldade maior
(torre peões f e h contra torre é um caso notório)
mas justificam-se dado a sua grande importância prática.
No entanto, as análises são acessíveis para um jogador médio, mas já exigem algum trabalho.
(torre peões f e h contra torre é um caso notório)
mas justificam-se dado a sua grande importância prática.
No entanto, as análises são acessíveis para um jogador médio, mas já exigem algum trabalho.
É incluído o mate de Bispo e Cavalo contra Rei, não tanto por importância prática como por cultura xadrezística – muitos GMs já foram para casa vermelhos por não ter conseguido dar este mate!
Não são cobertas algumas relações de material, por exemplo, Dama e peão contra Dama e Dama contra Torre - que, diga-se, são bastante difíceis - mas afinal a linha de divisão tinha de estar nalgum lado...
para não chegarmos às tais 400 páginas!
Depois aparece o teste final, que é bem mais difícil.
No fim é apresentada uma lista de fortalezas, que também é do maior interesse prático e o autor conclui com bibliografia para os interessados em progredir no estudo dos finais (em que, entre outros se incluem os tais tomos enciclopédicos sobre finais teóricos...)
para não chegarmos às tais 400 páginas!
Depois aparece o teste final, que é bem mais difícil.
No fim é apresentada uma lista de fortalezas, que também é do maior interesse prático e o autor conclui com bibliografia para os interessados em progredir no estudo dos finais (em que, entre outros se incluem os tais tomos enciclopédicos sobre finais teóricos...)
Resumindo, trata-se de um livro para jogadores ambiciosos, que já dominam os finais mais básicos, mas que ainda não têm o estímulo para trabalhar com obras mais exigentes.
Nomeadamente vários jogadores de força de 2000 ou mais de elo, algo ignorantes em finais teóricos, teriam muito a aprender com o livro, sem demasiado esforço. Jogadores bastante mais fracos que tenham gosto por finais podem também tirar bastante do livro.
Para ilustrar a importância que têm estes finais concluo com um exemplo da minha prática.
Este exemplo, que vem no livro
(Ending 38, pag 98),
não é dos mais importantes, e até é relativamente dificil.
No entanto, mostra que o conhecimento destes finais pode ter importância decisiva, dado um certo nível de jogo.
Nomeadamente vários jogadores de força de 2000 ou mais de elo, algo ignorantes em finais teóricos, teriam muito a aprender com o livro, sem demasiado esforço. Jogadores bastante mais fracos que tenham gosto por finais podem também tirar bastante do livro.
Para ilustrar a importância que têm estes finais concluo com um exemplo da minha prática.
Este exemplo, que vem no livro
(Ending 38, pag 98),
não é dos mais importantes, e até é relativamente dificil.
No entanto, mostra que o conhecimento destes finais pode ter importância decisiva, dado um certo nível de jogo.
(6) Marques,Rui (2123) - Van den Berg,Imme (2110)
Nacional 3ª Divisão - Fase Final, Évora Hotel, 05.08.2007
O lance anterior do meu adversário (Rd7) surpreendeu-me.
Não porque seja um lance estranho, mas porque eu estava à espera que ele abandonasse.
Agora, vou lhe comer o bispo e depois?
Aí lembrei-me que o meu rei ficava preso no canto, e como o cavalo não pode perder tempos, ele oscilaria o seu rei entre f7 e f8, sem me deixar progredir.
Um final teórico!
Com pouco tempo, e algumas vagas recordações de que este final estava ganho, lá tentei descobrir uma maneira de ganhar.
Como não consegui, decidi fazer uns lances, para tentar baralhar o meu adversário, a ver se, por milagre, aparecia no tabuleiro alguma chance de ganho suficientemente fácil para eu conseguir concretizar.
68.Cg7?!
[O método de ganho, descoberto por Horwitz no Sec XIX, é 68.Rf8 Rd8 69.Cf4! Rd7 (69...Bb2 70.Ce6+ Rd7 71.Cg7) 70.Rg8! Re8 (70...Re7 71.Cg6+) 71.Ch5! Re7 72.Cg7! as pretas estão em zugzwang! Curiosamente se fossem as brancas a jogar o jogo estava empatado... 72...Rf6 73.Rxh8 Rf7 74.Ce6! e ganha;
mas não 68.Rg8?? que desperdiça a vitória 68...Re8! 69.Rxh8 Rf8!=
Foi esta a conclusão da partida (com as cores invertidas) Stein - Dorfman, URSS 1970! (Dvoretsky Endgame Manual, 2ªed, pag 121)]
68...Rd6
69.Ce8+ Rd7
70.Rf8 Re6?
As tácticas de confundir o adversário deram resultado! Afinal o meu adversário também não estava assim tão familiarizado com este final. [70...Rd8! era a defesa tenaz, depois do que eu provavelmente não teria conseguido ganhar o jogo]
71.Rg8! Re768...Rd6
69.Ce8+ Rd7
70.Rf8 Re6?
As tácticas de confundir o adversário deram resultado! Afinal o meu adversário também não estava assim tão familiarizado com este final. [70...Rd8! era a defesa tenaz, depois do que eu provavelmente não teria conseguido ganhar o jogo]
72.Cd6!
[72.Cg7!]
72...Re6
[72...Rxd6 73.Rxh8; 72...Rf6 73.Rxh8; 72...Bb2 73.Cf5+ Re8 74.Cg7+]
1-0
Quero acrescentar que este final teve um sabor especial porque selou a vitória do GX Alekhine no Campeonato Nacional da 3ª Divisão em 2007.
Grande Rui!
ResponderEliminarO artigo é mesmo bom, e aquele jogo da Final, memorável.
Abraço
AE
Pois parece que os leitores não estão com muita atenção!
ResponderEliminarNa variante do Rei contra Cavalo e Peão (equivalente à partida Stein - Dorfman) o lance que empata não é Rf8?? mas sim Rf7!
Isto porque o Rei tem sempre que estar na casa em que leva xeque do cavalo - senão o cavalo controla (dá xeque!) à outra casa - e o rei tem de deixar o outro sair do canto!
Foi assim que o Stein jogou...