12/10/08

OS TERRIVEIS SUB12 CONTRA A DEFESA ESCANDINAVA - POR RUI MARQUES

Quero começar por agradecer ao meu amigo António Viriato a oportunidade de publicar neste excelente blogue, da qual espero estar à altura.

É sabido que os jogadores fortes costumam jogar variantes mais raras, por vezes até duvidosas, contra jogadores menos experientes, para os levar para fora dos caminhos conhecidos, na esperança de que cometam algum erro logo na abertura e lhes permitam uma vitória fácil.
É por isso muito tentador jogar uma variante hiper-agressiva da defesa Escandinava, ao bom estilo do século XIX, quando se joga contra um sub12... mas as partidas que se seguem mostram tal táctica pode ser prejudicial para o elo...

Na primeira partida enfrentam-se André Fernandes, um dos alunos do Carlos Aguiar e uma das promessas do GX Alekhine, apesar de resultados algo irregulares nos últimos tempos.
De pretas temos o Luís Francisco da Mata de Benfica, típico jogador de 2000, que este ano até participou na primeira divisão por equipas, claramente um jogador muito mais experiente...

(1) Fernandes,Andre (1728) - Francisco,Luis (2048)
[B01]Taça de Lisboa, 2008
1.e4 d5
2.exd5 Cf6
3.Cf3 c6?!
Esta jogada, se bem que relativamente comum entre jogadores de clube, é muito duvidosa pois dá um peão sem se ver grande compensação. Se as brancas tivessem jogado 3 c4, ai já era outra história (3 c4 e6!? chama-se gambito islandês). Suponho que a idade do adversário tenha pesado nas decisões das pretas neste jogo.
4.d4
As brancas não estão interessadas em questões materialistas [4.dxc6!]
4...Bg4
5.Cc3
[5.dxc6!]
5...Cxd5
6.Cxd5 Dxd5
7.c4 Dh5?!
Demasiado optimista [7...Bxf3!? dobrando os peões, dava bom jogo às pretas]
8.Be2 Cd7
9.Bf4 g5?!
10.Bg3?!
As brancas recusam o material com consistencia - têm ideias mais grandiosas - o que é bom nestas idades!
10...0-0-0!?
Isto parece um bocado suicida , mas o computador aprova. No entanto é preciso seguir com muita energia.
11.Da4 a6?
Mas não assim! [Era bom 11...f5! 12.h3 Bxf3 13.Bxf3 Dg6 14.Dxa7 f4 15.Da8+ Rc7 16.Da5+ Rc8 17.Bh2 De6+ 18.Be2 De4! e o rei branco no centro dá muito jogo às pretas]


12.Da5!?
[12.d5! Era ainda mais forte, mas a mim é dificil criticar o lance das brancas - para tal seria preciso prever a variante do lance 13 das pretas - o que não me parece nada fácil para jogadores abaixo de mestre - sem computador, claro!]
12...e5
13.Cxe5 Bxe2?
[As pretas ainda podiam tentar resistir com 13...Cxe5! 14.Bxe5 Bd6! 15.Bxg4+ Dxg4 16.Bxh8 Bc7 17.Dc3 Dxg2 18.0-0-0 Txh8 - mas a longo prazo devem estar perdidas]

14.Cxc6!!
E não há nada a fazer - a ameaça de mate em c7 decide a partida.
1-0



Na próxima partida, o autor enfrenta-se com Ana Baptista, já na altura, com cerca de 11 anos, considerada uma sólida e talentosa jogadora, facto que se veio a confirmar com o tempo.
Contra jogadores demasiado sólidos, claro que só há um opção – ataque a qualquer preço – e a defesa Escandinava!

(2) Baptista,Ana (1570 - FPX) - Marques,Rui (2185 - FPX)
[B01]Centro Xadrez Lisboa II Lisboa (2.1), 2001

1.e4 d5
2.exd5 Dxd5
3.Cc3 Da5
4.d4 Cc6
5.Cf3
[Interessante seria 5.Bb5!? ]
5...Bg4
6.Be2 ?!
Isto aqui já começa ser um bocado passivo - há que jogar com energia contra a Escandinava! [6.Bb5!]
6...0-0-0
7.Be3 Cf6
[E as pretas devem reagir com energia também - 7...e5!? 8.Cxe5 Bxe2 9.Dxe2 Cxe5 10.dxe5 Dxe5=]
8.0-0 e5!
9.Cg5?! Be6?!
Uma sequência imprecisa [9...Bxe2! 10.Dxe2 exd4! 11.Cxf7 dxe3! 12.Cxh8 exf2+ 13.Rh1 O peão não pode ser tomado de imediato por causa da pregagem Bc5. As pretas têem excelente compensação e a iniciativa. Além disso não se vê como é que o Ch8 vai sair.]
10.Cxe6 fxe6
11.Cb5!? exd4!?
[11...a6 12.a4!]
12.Cxd4 Cxd4
13.Bxd4 Df5?!
[13...Bc5! 14.Bc3? Bxf2+!! 15.Rh1 (forçado) (15.Rxf2 Ce4+ 16.Rg1 Dc5+; 15.Txf2 Txd1+) 15...Txd1 16.Bxa5 Txa1 17.Txa1 e as pretas ganham um peão]
14.Bd3


14...Ce4??
Um erro de cálculo que me devia ter custado a partida [14...Txd4! 15.Bxf5 Txd1 16.Bxe6+ Td7=/+]
15.Bxa7! Bd6
[15...b6?? seria embaraçoso - 16.Ba6#]
16.Te1
As brancas ganharam um peão limpo e ameaçam fazer mais estragos. Resta às pretas tentar complicar. Mas primeiro é preciso limitar os danos a nível de material.
16...Da5!
17.Dg4 Dxa7
18.Dxe6+ Rb8
19.Bxe4?!
Tomar com a dama era melhor, porque deixava as peças brancas menos expostas.
19...Thf8
As brancas têm agora dois peões a mais, mas com os bispos de cor contrária a iniciativa é decisiva, e as pretas têm muitas linhas abertas e as peças bem colocadas para obter contra-chances
20.Bf3?!
[20.Te2!+/- Evitava o que se segue, mantendo a vantagem material.]

20...Bxh2+!
21.Rxh2 Txf3!
22.gxf3?
[Não era obrigatório comer a torre! 22.Tad1! Tff8 23.Txd8+ Txd8 24.Dd7!+/- com excelentes chances de ganhar a partida, depois de 24...Dd4 (forçado) 25.Dxd4 Txd4]
22...Dxf2+
3.Rh1
[claro que o rei não pode ir para cima - 23.Rh3?? Dxf3+ 24.Rh4 (24.Rh2 Td2+) 24...h6!-+]

23...Dxf3+
24.Rg1 Dg3+
25.Rf1 Df3+

e empate por xeque perpétuo [Tentar ganhar era demasiado ambicioso - 25...Tf8+ 26.Re2 Df2+ 27.Rd3 e não se vê nada de concreto para as pretas, que têm uma torre a menos (mas não 27.Rd1?? Td8+ 28.Rc1 Dd2+ 29.Rb1 Dd1+!) ]

1/2-1/2

Este foi o meu primeiro encontro com a Ana Baptista num torneio. A partir dai já jogamos várias partidas, e últimamente ela tem conseguido fazer melhores resultados... Mas a história ainda não acabou, e conto voltar a publicar partidas entre nós os dois...


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