04/11/08

XADREZ - TÉCNICAS E ESTRATÉGIAS - CRITICA AO LIVRO - POR RUI MARQUES


Xadrez – Técnicas e Estratégias, por Sérgio Rocha e António Fróis

Quando o MI Fróis me desafiou a criticar o livro neste blogue, a minha primeira reacção foi de pânico! Afinal eu só queria mostrar aqui alguns livros que senti que me ajudaram, ou que eu compreendo bem, dentro do meu nivel actual, das partidas que faço, e dos circulos de Xadrez em que me movimento – jogadores adultos e algo experimentados.


No entanto, rápidamente cheguei à conclusão que seria quase criminoso estar para aqui a falar de livros de autores estrangeiros, em lingua estrangeira, e deixar passar um dos poucos livros que surge no mercado nacional, mesmo correndo o risco de “por a pata na poça”.

Devo dizer que se alguma vez fui treinador, foi de mim próprio, e a minha experiência de aprender os fundamentos do Xadrez é algo distante, mas mesmo assim está presente, e para já devo dizer – se eu tivesse tido acesso a um livro assim quando tinha 12/13 anos, tinha de certeza chegado muito mais longe no mundo do Xadrez, e no mínimo, tinha coisas bem mais interessantes para escrever neste blogue...

Quanto aos autores, tratam-se de dois MIs de reconhecido mérito e experiência na formação xadrezistica, nomeadamente nas camadas mais jovens, tendo Sérgio Rocha já alguma experiência em publicar livros. Sabendo da história das dificuldades na publicação do livro, é impossível conter uma crítica ao mundo das editoras portuguesas, que tão pouco interesse mostram pelo Xadrez. Quer em termos de autores portugueses – que, pelo que têm mostrado até agora, não ficam atrás dos estrangeiros, quer a nível de clássicos mundialmente reconhecidos - dos quais, para além do Kasparov não se vê nada nas livrarias portuguesas.

É pois de elogiar a coragem dos autores, e de esperar que esta experiência seja um grande sucesso, e que leve as editoras a repensar a sua politica – e que no futuro, possamos ter, por exemplo, livros de partidas dos jogadores portugueses mais criativos, como o Rui Dâmaso ou o António Fernandes, só para dar dois exemplos dos meus preferidos. É no minimo triste que os portugueses interessados em Xadrez tenham que andar a ler livros em Espanhol e em Inglês...

Bom, mas eu sou suposto dizer o que acho do livro e aqui vai. Trata-se de um livro de fundamentos, destinado principalmente a jovens, que, tendo dominado as regras do jogo e adquirido alguns conceitos básicos (alguns mates mais fáceis, valor do material, centro, desenvolvimento, etc) querem prosseguir e ter uma visão mais alargada do Xadrez e de como progredir.

O livro cobre o assunto de forma horizontal, ou seja aborda os tópicos principais de forma algo resumida, mas entrando em alguma profundidade nos exemplos. Claro que para um verdadeiro livro de fundamentos seriam necessárias, pelo menos, 300 páginas e não 100 – mas claro que publicar tal obra seria completamente impossível dadas as condições acima mencionadas...

Para ficar com uma panorâmica, posso dizer que o livro aborda os mates ao rei sózinho (incluindo uma boa secção sobre mate de Bispo e Cavalo) após o que dedica uma boa porção a finais de peões e de Torre e peão contra Torre.

Também aborda Bispo e peão contra Bispo e Dama contra peão. Segue-se a secção sobre táctica, incluindo alguns temas como ataque duplo, descoberto, pregagem e ataque ao rei. A seguir são ilustrados dois temas estratégicos – ataque de minorias e cavalo contra bispo mau. O capítulo das aberturas começa com uma boa introdução aos conceitos básicos, segue com algumas ciladas de abertura e culmina com uma discussão de algumas variantes bastante interessantes da abertura italiana.

O livro tem bastantes exercicios (e para quem quiser mais, Sérgio Rocha está a lançar os seus Cadernos de Xadrez), o que é essencial, porque no Xadrez não se vai lá sem puxar pela cabeça.
Alguns exercicios têm um grau de dificuldade bastante exigente para quem tenha aprendido a jogar à pouco tempo – mas o Xadrez é um jogo dificil (senão não teria interesse) e quem que pensar que é fácil limita-se a enganar-se a si próprio.

Aliás exercícios mais difíceis e exemplos tratados em profundidade têm a vantagem de que jogadores algo mais experimentados possam ter interesse no livro, que, nem que seja pelo preço, nunca será uma má compra!

Resumindo, uma iniciativa de saudar e apoiar.
Um livro importante - xadrezistas portugueses apoiem o livro, e por favor, não recorram ao velho hábito português de distribuir fotocópias – que diga-se, é muito mal visto lá fora!

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