19/10/08

O JOGO DA SARDINHA - POR RUI MARQUES

Em Vale de Cambra fiz um bom torneio.
Creio que podia ter feito melhor se não tivesse perdido a seguinte partida:
(trata-se de uma semi-rápida pelo que não se deve criticar demais os erros dos jogadores)

(5) Ulyanovskyy,Viktor(2271) - Marques,Rui(2063) [B51]
Memorial Pedro Parcerias Vale de Cambra (4), 27.09.2008

1.e4 c5
2.Cf3 Cc6
3.Bb5 d6
4.0-0 Bd7
5.c3 Cf6
6.Te1 a6
7.Ba4 c4
8.d4 cxd3
9.Dxd3 e6
10.Bg5!
As brancas conseguem um jogo activo.
As pretas têm que ter cuidado porque ainda não estão desenvolvidas
10...Be7
11.Cbd2 0-0
12.Bc2!?
Com ameaças de e5 e os mates em h7 criam embaraços às pretas

12...Ce5!
Um artificio típico da siciliana, para controlar o centro e reduzir as possibilidades das brancas
13.Cxe5 dxe5
Os peões dobrados controlam o centro e não são fáceis de atacar.
14.Tad1 Dc7
15.Dg3 Ch5!
Tratando de trocar umas peças. As pretas conseguiram igualar o jogo.
16.Dh4 Bxg5
17.Dxg5 Cf4
18.Cf3
[e não 18.g3?? Ch3+]
18...f6
19.Dg4 f5?!
Não havia necessidade disto, mas eu não consegui resistir e quis tomar a iniciativa a qualquer custo.
20.Dg3
O meu adversário, jogador posicional, não podia ter ficado mais contente, e dedica-se a atacar os peões centrais que se rapidamente se tornam vulneráveis.
20...Bc6
21.exf5 Bxf3
22.Dxf3 exf5
23.g3

23...Ch3+?
[23...Cg6! e se 24.Bxf5 Df7 25.g4 Ch4! - era este o tipo de jogo que deiva estar à procura depois do avanço dos peões]
24.Rg2 Cg5
25.Dd5+ Rh8
26.Dd6
As brancas contentam-se com um final superior sem dar oportunidades de contra-jogo.
O computador aconselha a comer os peões todos mas numa semi-rápida,
com pouco tempo, tal politica é arriscada

26...Dc4?!
Continuando com a especulação.
O menor mal era o final. [26...Dxd6 27.Txd6 e4+/=]
27.h4! Ce4
28.Dd5!
E finalmente sou obrigado a entrar no final inferior que andei a pedir desde o lance 19

28...Dxd5
29.Txd5 Cf6
Não é possível defender os peões..

30.Tdxe5 g6
31.T1e2?
[31.Te7! era lógico e bom.
As brancas estão ganhas.
Mas acham que tudo serve, e que, desde que não deêm demasiadas contra-chances,
a posição se vai ganhar sozinha -
o que acontece frequentemente nas mãos de um mestre contra um jogador mais fraco.]


31...f4!
Mas as pretas, com tempo para respirar, encontram o grão de areia para pôr na engrenagem do mestre...
32.Te7?
Claro que comer o peão não era desejável.
Mas as brancas não vêm que o lance tem outra ideia... [32.gxf4?! Ch5!; 32.Td2!+-]
32...Cd5!
33.Txb7?? f3+!
34.Rf1 fxe2+
35.Rxe2
Aqui o meu adversário parou para recuperar a compostura.
Como tinhamos os dois cerca de dois minutos no relógio e ele ficou com menos de um, eu passei a estar ganho por posição e por tempo.
No entanto, isto de jogar em apuros de tempo tem muito que se lhe diga e eu consegui comer-lhe as peças *quase* todas mas acabei por perder por tempo...
Não dou o resto da partida, porque sinceramente não me consigo lembrar – em semi-rápidas não se aponta a partida...
1-0(Tempo)

Depois de uma derrota destas é duro enfrentar os comentários dos fans e amigos, que estiveram a torcer por nós até ao último segundo.


Um amigo meu, grande craque em matraquilhos, disse-me o seguinte:
- Viu-se mesmo porque é que perdeste – ele mexe as mãos mais depressa do que tu!
Tens que treinar essas mãos – jogar à sardinha!


Mais tarde comentei isto com os amigos do Alekhine.
Alguns riram-se, mas houve um que levou o assunto a sério, e que me respondeu que isso de jogar à sardinha devia ser uma táctica da escola soviética, de que o Viktor Ulyanovskyy é um ilustre representante – talvez até da escola do Botvinnik, que produziu campeões como o Karpov e o Kasparov!


Hhmm....




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